A GRANDE MATÉRIA NÃO MOSTROU

 Uma análise sobre o que não foi dito na matéria acerca do cai-cai

A revista eletrônica da Record “Domingo Espetacular” mostrou em sua grande reportagem da semana um item do movimento pentecostal denominado como a “doutrina do cai-cai”. O Brasil, especialmente os evangélicos, entre eles os pentecostais, ficou estupefato com as declarações de que tal manifestação é uma ação do diabo no meio dos evangélicos. Tais declarações, acompanhadas de imagens “fortes” sob análise de pessoas que sequer entendem o que pode (eu disse pode) estar acontecendo, trouxeram confusão para a cabeça de muita gente.
Eu ainda não entendi o que eles (a Record) quiseram fazer. Se for uma crítica aos pentecostais, a matéria foi um tiro no pé, uma vez que a IURD – Igreja Universal do Reino de Deus, dona da Record (pelo menos eu acho) faz parte do seguimento pentecostal. Tal crítica seria cuspir no prato que ainda come. Se a intenção era atacar o pastor Silas Malafaia, defensor ferrenho do pentecostalismo, isso foi, no meu entender, uma burrice porque tal matéria só deu mais “munição” para o referido pastor argumentar em defesa do Movimento Pentecostal. E se, na pior das hipóteses, for uma maneira de usar o poder da mídia para atacar desafeto a lá Chatô (Assis Chateaubriand que usava a impressa da qual era dono para atacar seus desafetos e tirar proveito pessoal), isso caracteriza ausência de caráter, o que eu torço para não ser verdade numa instituição como a Record.
Por outro lado, a veiculação da matéria pode ter sido (e eu espero que tenha sido) apenas um trabalho jornalístico. Assim sendo, tem algumas perguntas que a “grande” matéria não respondeu.
Por que mostrar apenas os exageros do emocionalismo e não o movimento pentecostal na íntegra?
Por que dar como referencia a Catch The Fire (igreja do aeroporto em Toronto) onde as pessoas pagam para entrar e vão lá para cair, sem esclarecer que essa não é a realidade das igrejas pentecostais?
Por que apresentar Paul Gold como fundador do cai, cai sendo que ele mesmo disse que apenas estava lá quando tudo começou, mas abandonou, covardemente, em minha opinião, as pessoas que ele mesmo teria ajudado a “iludir”?
Expor negativamente a imagem de Ana Paula Valadão em sua igreja, ao lado de seu pai sem ouvi-la é jornalismo verdade?
Se infiltrar em um culto como um investigador com uma câmera escondida sem voltar depois para conversar com o pastor da igreja acerca do que foi veiculado é jornalismo?
Sinceramente, não ter essas respostas me deixa indignado.
Mas vou dizer o que eu vi. Permitam-me pontuar cada observação.
  • O que se mostrou na matéria foram os exageros: um pastor que passa a unção para uma criança de poucos meses, pastores que pulam e rodopiam, pessoas andando de quatro e rolando pelo chão, gente dando gargalhada e uivando. Pastor passando o paletó de fogo e derrubando todo mundo e até um empresário de Araraquara SP que tinha tanta vontade de cair no espírito que se jogou no chão. Isso, que nós chamamos no contexto teológico de meninice, foi explicado na matéria por especialistas como o Dr. Jacó Goldberg que chamou a atenção para o som alto e a música rápida criando um ambiente propício para a histeria e pelo neurologista Marcelo Sogabe que falou sobre a pareidolia, quando o cérebro fica condicionado a agir como todos estão agindo. Prova disso é que nem todos caem e os que caem não cairiam se não quisessem. Eu entendo isso como exagero, mas nunca como ação diabólica, o que seria uma possessão demoníaca já que as pessoas entrariam em transe, como foi abordado na matéria em questão.
  • Outro ponto importante na matéria é a omissão dos nomes das igrejas e a ausência da fala de líderes e pastores do movimento pentecostal no Brasil. Isso caracteriza a matéria como tendenciosa, o que lhe descredencia como documento de valor moral.  Tal prática deixa claro que o documento não representou o movimento pentecostal e muito menos a igreja evangélica no Brasil.
  • Além disso, a fala do pastor Paul Gold não foi esclarecedora. Ele falou de um ponto de vista pessoal, fez referência ao movimento como antibíblico, mas não citou nenhum texto da bíblia e falou de um movimento que ele abandonou. É muito fácil falar da casa de onde a gente sai. Difícil é falar da casa onde a gente mora. Se o pastor Gold quer falar de experiências fora da bíblia deveria explicar como chegou à conclusão de que Deus não permitiu que ele morresse apenas para que ele esclarecesse ao mundo a “farsa do cai-cai”. Para quem foi poupado apenas para isso, Paul Gold deixou muito a desejar
  • Finalmente, um documento que confunde ao invés de esclarecer e, pior ainda, se mostra tendencioso e pessoal, não pode ser chamado de “grande matéria” além de prestar um desserviço para o reino de Deus.
Para mim, a matéria do domingo espetacular ainda terá desdobramento, mas isso tudo não passa de um escândalo para o qual nós, como servos de Deus, não devemos dar ouvido. Nosso alvo é Jesus e é para Ele que vamos olhar. Em relação Á IURD amo e respeito os irmãos de lá, mesmo discordando da prática cristã adotada pela instituição e do comportamento de seu líder maior.


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